20.12.16
Sócio de Societário, Fusões e Aquisições comenta os planos de desinvestimentos de empresas como Vale, Petrobras e CSN
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José Orlando Lobo, sócio-gestor de Societário, Fusões e Aquisições, falou sobre o cenário de desinvestimentos de gigantes da indústria diante da crise. Leia a matéria completa, publicada no jornal DCI desta terça (20):
Gigantes da indústria terão desafios para vender ativos em cenário difícil
Os planos de desinvestimentos de empresas como Vale, Petrobras e CSN enfrentam obstáculos como volatilidade dos preços das commodities e instabilidade política e econômica no Brasil
São Paulo – Gigantes da indústria brasileira buscam vender ativos para aliviar o caixa, impactado pela variação cambial, queda dos preços das commodities e crise econômica interna. Mas analistas apontam obstáculos que podem minar as expectativas dessas empresas.
Segundo o estrategista da Upside Investor, Shin Lai, o câmbio atual torna os preços dos ativos mais baratos para o investidor estrangeiro, entretanto, o cenário ainda é desafiador para as empresas.
“Do ponto de vista de preço, a valorização do dólar é um fator positivo. Mas a negociação vai depender do projeto à venda, da atividade e da empresa que está se desfazendo do ativo”, pondera.
Companhias de três grandes segmentos industriais estão tocando programas de desinvestimentos, incluindo a Vale, a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) e a Petrobras. O que essas empresas têm em comum, entre outros fatores, são as commodities em baixa e o excesso de capacidade global.
“A CSN, por exemplo, está extremamente endividada, então a venda de ativos se torna obrigatória para pagar suas dívidas”, pontua Lai.
O chefe de mercado de capitais da Eleven Financial, Adeodato Netto, acredita que o caso da siderúrgica seja o mais complicado.
“O ciclo de dívidas da CSN está perto do fim e a empresa deve enfrentar dificuldades para negociar com os bancos a rolagem de seus vencimentos. A situação da companhia é dramática”, acrescenta.
Recentemente, em teleconferência com analistas o presidente da siderúrgica, Benjamin Steinbruch, comentou que a estimativa de desinvestimentos da empresa é de aproximadamente R$ 8 bilhões. “Realmente não gostamos de vender ativos, mas vamos escolher os mais periféricos para efeito de desalavancagem. Mas reforço que não vamos vendê-los a qualquer preço”, disse Steinbruch.
Contudo, de acordo com Netto, a CSN não tem muitas opções. “A empresa teve oportunidades de vender ativos atraentes, mas não o fez. Se a companhia não mudar sua postura, os problemas de caixa devem se agravar ainda mais em 2017”, avalia Netto.
Incertezas
O sócio-gestor da área de societário, fusões e aquisições do Lobo & de Rizzo Advogados, José Orlando Lobo, acredita que o Brasil ainda é uma boa alternativa para o investidor.
“Com preço certo, há compradores para os ativos brasileiros”, avalia o advogado.
No entanto, ele alerta para o fato de que o País vive um momento decisivo do ponto de vista político. “O mercado espera por reformas que, se não acontecerem, podem ser prejudiciais para a imagem do Brasil”, acrescenta ele.
Lobo salienta que o investidor vai levar em consideração o momento atual que o Brasil vive para negociar. “Certamente os preços vão refletir o cenário de insegurança”, diz.
Na mineração, por exemplo, há incertezas acerca do novo marco regulatório, parado há anos no Congresso, o que pode pesar ainda mais na venda de ativos do setor.
Lai, da Upside, destaca que, no caso da Vale, a empresa necessita de um maior fluxo de caixa livre para compensar o vultoso investimento em seu maior projeto de minério de ferro, o S11D de Carajás.
Netto ressalta ainda que a mineradora tem demonstrado excesso de otimismo sobre seus ativos com a escalada recente dos preços do minério de ferro. “Este cenário não deve persistir, portanto, a Vale precisará trabalhar muito mais pela sua estrutura de capital”, avalia. “Não vejo a empresa tão confortável para desinvestimentos: a empresa deve vender ativos pelo preço que der.”
O caso que parece ser o menos preocupante é o da Petrobras, apesar dos desdobramentos da Operação Lava Jato. Segundo Lai, a recente decisão da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) de cortar produção contribuiu para melhorar o humor do mercado. “Esse fator torna a situação da Petrobras um pouco mais favorável”, pontua.
Para Netto também, das três gigantes, a melhor situação para vender ativos é a da Petrobras. “A companhia traçou um plano reto e claro de desinvestimentos. Pela primeira vez na história, me parece que a empresa quer realmente reduzir o seu tamanho, inclusive com aval de seu controlador.”
Juliana Estigarríbia