13.06.16

Advogado da área Trabalhista fala sobre relacionamentos amorosos em empresas na Época Negócios

Compartilhe
O advogado Rodrigo Luís Shiromoto, da área Trabalhista, participou neste domingo (12) de matéria do site da revista Época Negócios, na qual comenta se as empresas podem proibir relacionamentos amorosos no trabalho. Leia o conteúdo completo: Eu me apaixonei por um colega. Devo contar para a empresa? Não são poucos os casos em que determinadas atitudes de funcionários fogem ao escopo das regras corporativas ou daquilo que o código de uma empresa determina. A situação torna-se ainda mais sensível quando a atitude em si envolve dois funcionários em um relacionamento amoroso. Em pesquisa divulgada na última sexta-feira (10/06) pelo site Vagas.com, de 3 mil funcionários entrevistados 12,5% assumiram que já tiveram um ou dois relacionamentos amorosos com algum colega de trabalho. Deste total, 30,8% resultaram em namoro e 29% em casamento. Um dado que se destaca, contudo, refere-se aos entrevistados que disseram não terem tido relacionamento no ambiente de trabalho. O motivo? A maioria (54,9%) prefere não misturar a vida profissional e pessoal. Eles estão certos? O especialista em RH, João Roncati, da consultoria People + Strategy, afirma que as empresas têm se mostrado mais abertas para relacionamentos amorosos entre os funcionários. “As companhias passaram a assumir que é quase impossível desconsiderar que profissionais que convivem 10, 12 horas por dia possam desenvolver relações amorosas”, diz. O especialista afirma que esta mudança iniciou-se em larga escala nos anos 90, à medida que as grandes empresas foram saindo das cidades maiores e se expandindo pelo interior dos estados. Em municípios com menor oferta de mão de obra qualificada, as companhias acabaram contratando mais profissionais relacionados a seus funcionários – primo, amigo, cunhado, irmão. “Em empresas de cidades pequenas, onde o vínculo de confiança é algo muito importante e o funcionário pode indicar alguém, as companhias passaram a relativizar um código de conduta interno tão rígido”. Em muitos códigos organizacionais, certas regras prevalecem. Na maioria dos casos, é proibido ter um relacionamento com um gestor ou subordinado e, em muitos deles, é indicada a transferência de área, caso a relação amorosa estabeleça algum tipo de conflito de interesse. Em termos jurídicos, não existe uma lei ou diretriz que trate deste assunto, de acordo com o advogado Domingos Fortunato Netto, sócio do escritório Mattos Filho. “Entendemos que para evitar problemas é preciso inserir nos códigos uma previsão sobre relacionamento amoroso entre empregados e incentivá-los a levar o fato ao conhecimento da empresa em nome de um ambiente imparcial no trabalho e, inclusive, para evitar alegações futuras de suposto favorecimento”, afirma Netto. Contar para o chefe, contudo, mostra-se um dilema para muitos casais. Roncati afirma que já viu casos em que o funcionário esconde o caso para evitar essa conversa ou, se segue em frente, já apresenta um pedido de demissão. Esta atitude, contudo, é exagerada, segundo ele. “Se você já tem um bom relacionamento no trabalho, acha que vale a pena seguir, que sua carreira caminha, conte e se disponha a encontrar uma solução”, diz. Para a empresa, o especialista também sugere uma política de portas abertas e respeito. “É importante que as companhias reconheçam que faz parte da natureza do ser humano se apaixonar e ele não escolhe isso. Quando a empresa trata com cuidado e respeito os envolvidos e a situação tudo contribui para um ambiente mais adulto e saudável”. Vale ressaltar também que qualquer tipo de proibição corporativa pode ser questionada. “Em um relacionamento entre colegas que não causa nenhum prejuízo para o empregador não é recomendado tomar qualquer conduta que limite a conduta deles”, diz o advogado trabalhista Rodrigo Luís Shiromoto, do Lobo & de Rizzo. Uma das situações mais delicadas é, de fato, quando há relação de subordinação entre os profissionais envolvidos. Neste caso, uma transferência é altamente recomendada. Roncati afirma, porém, que o funcionário deve buscar o diálogo interno para não prejudicar sua carreira. Esconder o fato é a atitude menos aconselhável. “Há um caso de uma empresa internacional que localizou em seu servidor trocas de mensagens entre altos executivos. O conselho discutiu, analisou o código de ética e precisou demitir 2 profissionais, incluindo um presidente. Se eles tivessem contado sobre o caso antes, provavelmente o que teria ocorrido era apenas uma transferência. Não é uma situação fácil. É, sim, um incômodo contar. Mas é necessário”. Voltando à pesquisa da Vagas.com, a grande maioria dos entrevistados que afirmou ter tido um relacionamento (81,5%) relatou que não teve sua carreira prejudicada por conta disso. Para 40,5% dos respondentes, a relação era de conhecimento de toda a empresa. No final das contas, o que parece prevalecer – e dar resultados – é mesmo o bom senso. “A empresa pode até criar muitas regras, mas quando falta bom senso ao casal dentro e fora do trabalho é quando a situação se complica”, diz Shiromoto.