6.01.16
Sócia da área Societária, Fusões & Aquisições fala sobre o mercado de capitais em 2016
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Luciana Pietro Lorenzo, sócia da área Societária, Fusões & Aquisições, falou sobre o mercado de capitais para reportagem da Agência Estado publicada para assinantes no dia 30 de dezembro de 2015.
EXCLUSIVO: SEM CLAREZA POLÍTICA E ECONÔMICA, MAIS EMPRESAS PODEM FECHAR CAPITAL EM 2016
São Paulo – O movimento de saída de empresas da Bolsa brasileira tem potencial para continuar em 2016, caso não seja percebida maior clareza no horizonte político-econômico do País. Neste ano, entre ofertas públicas de aquisição (OPA) para cancelamento de registro registradas ou em análise na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), são 15 operações. Outras companhias, como a Prumo, já anunciaram a intenção de realizarem uma OPA para o fechamento de capital.
José Paulo Rocha, sócio-líder da área de Financial Advisory da Deloitte no Brasil, salienta que esse movimento de saída de empresas da bolsa é um reflexo do que vem ocorrendo na economia brasileira, com retração do Produto Interno Bruto (PIB), além de muitas incertezas políticas. “Enquanto perdurarem incertezas políticas e econômicas, continuaremos assistindo um movimento de empresas fechando o capital”, afirma Rocha. Segundo ele, as empresas vão a mercado, no geral, para terem acesso ao capital para investimento de longo prazo, mas que, em um momento de recessão, poucas empresas estão planejando grandes projetos de investimento.
Entre as principais razões que levam uma empresa a decidir fechar o capital está a falta de necessidade de captar recursos, custos e reestruturação societária, o que ocorre, por exemplo, em movimentos de consolidação. Nesse último caso, além de transações envolvendo duas companhias de capital aberto no Brasil, o que levará à incorporação de uma empresa por outra, as companhias listadas podem ser alvo de empresas estrangeiras atraídas pelo dólar valorizado frente ao real. “Um grupo estrangeiro que já possui capital aberto lá fora, ao comprar uma empresa aqui, pode optar pelo fechamento de capital”, afirma a sócia do escritório Lobo & Rizzo, Luciana Pietro Lorenzo.
Segundo a advogada, especializada em mercado de capitais, empresas listadas estão realizando consultas para se informarem sobre os procedimentos para sair da bolsa, sendo que a alegação mais comum, conta, é o valor das ações, negociadas em muitos casos abaixo do valor patrimonial, além do custo para se manterem listadas, já que as companhias querem, neste momento de recessão econômica, controlar despesas. “Por outro lado, algumas das empresas que vêm nos consultar questionam se poderão decidir em reabrir o capital futuramente”, diz.
No entanto, a decisão de fechar capital, que em um primeiro momento pode parecer um passo para economizar custos, poderá significar um retrocesso na trajetória de uma empresa, visto que já está comprovado que transparência, item cada vez mais exigido pelo mercado das empresas de capital aberto, gera valor, aponta o conselheiro do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), Emílio Carazzai. “Mas esse movimento é transitório, ocorre muito em função do momento adverso que o País atravessa”, diz.
O movimento de fechamento de capital é comum e faz parte da dinâmica do mercado, assim como as aberturas. No entanto, desde o ano passado, a deterioração da economia levou a um desequilíbrio de forças e até aqui houve muito mais fechamentos dos que aberturas de capital. Neste ano, apenas a Par Corretora conseguiu se lançar no mercado. No ano passado apenas a Ourofino emplacou seu IPO. Com pedido em análise na CVM para IPO estão IRB Brasil Re e Caixa Seguridade, que já adiaram suas ofertas por conta das condições atuais do mercado.
Dos cancelamentos de registros anunciados ao longo do ano, grande parte deles foi de empresas que já não acessavam o mercado de capitais há muito tempo, além de possuírem baixa liquidez. Assim, os controladores se aproveitaram do momento de preços em queda para fechar o capital. Esse foi o caso, por exemplo, da fabricantes de brinquedo Estrela.
Minoritários apontam que a retirada de empresas da bolsa com a justificativa das elevadas taxas de juros praticadas no mercado ou pela conjuntura econômica, na prática, não faz sentido. Isso porque quando o controlador decide fechar o capital da companhia, ele está fazendo um novo investimento na empresa, o que sinaliza uma percepção diferente de valor da companhia entre ele e o acionista minoritário.
Celson Plácido, estrategista-chefe da XP Investimentos, destaca que esse movimento deve ocorrer até que o cenário de incerteza comece a se dissipar, o que deve ocorrer quando o País começar a contar com uma agenda econômica e quando o ajuste fiscal começar a ser efetivamente implementado. Enquanto isso, destaca, os controladores de empresas, que conhecem melhor do que ninguém o potencial do negócio, podem optar em fechar o capital, já que essa pode ser uma forma de conseguir maximizar seus ganhos.
Exemplo disso, lembra Plácido, são os programas de recompra. Ao todo, segundo dados da BM&FBovespa, são 64 empresas com programas em curso para recomprarem suas ações. “Muitas empresas estão achando melhor recomprar suas ações do que investir no crescimento do negócio”, diz.
Uma melhora nesse fluxo, na opinião do chefe de mercado de capitais da casa de análise independente Eleven Financial, Adeodato Volpi Netto, deve ocorrer apenas a partir de 2017. Segundo ele, a saída de empresas acaba ainda desmotivando o investidor menos profissional a investir em renda variável.
Por Fernanda Guimarães